Justiça suspende obras no aeroporto de Guarulhos
A Justiça Federal determinou que a Infraero suspenda as obras de construção do terceiro terminal de passageiros do aeroporto de Guarulhos (SP), que estão sendo feitas sem licitação.
A obra, no valor total de R$ 85,75 milhões, foi
contratada em regime emergencial --por isso não houve a licitação. Segundo a Infraero informou em julho, a contratação da obra nesse regime ocorreu para evitar colapsos devido ao fluxo atual de passageiros de Cumbica e para atender o movimento da Copa-2014 --o que a desobrigaria de abrir licitações.
A decisão, em caráter liminar, é da 6ª Vara Federal em Guarulhos e atende a
pedido feito pelo Ministério Público Federal.
DELTA a empreiteira que mantinha "negócios" com o quadrilheiro Dirceu
O segredo do sucesso
Empresários afirmam que o ex-ministro José Dirceu faz tráfico de influência. E um de seus clientes, um empreiteiro que multiplicou seus ganhos no governo do PT, diz que os políticos são corruptos
Em 2005, José Dirceu foi obrigado a deixar a poderosa Casa Civil da Presidência da República, abatido pelo escândalo do mensalão. No mesmo ano, teve o mandato de deputado federal cassado no plenário da Câmara. Desde então, o petista trocou os holofotes pela atuação nos bastidores. A saber, a vida de dirigente partidário e de prócer governista por uma bem-sucedida carreira de consultor de empresas privadas. Dirceu já representou interesses milionários em países latino-americanos, nos Estados Unidos, na Europa e no Oriente Médio. Montou um portfólio invejável de clientes, do bilionário mexicano Carlos Slim, dono da Claro e da Embratel, ao controverso magnata Boris Berezovski, proibido de retornar à Rússia pela Justiça daquele país. Dirceu construiu uma carreira sem dúvida exitosa na área comercial, mas deixou margem a uma dúvida incômoda: que tipo de serviço ele realmente presta aos seus clientes? Pela primeira vez desde a saída do petista do Planalto, há evidências claras e um testemunho convincente de que as suas “consultorias” não passam de um eufemismo para acobertar a prática de tráfico de influência.
Ao lançar mão de relações construídas no governo Lula, o ex-ministro abre portas de gabinetes e mostra os caminhos mais curtos que levam aos abarrotados cofres públicos. Da empreiteira Delta, um dos gigantes do setor, surge o caso mais contundente até agora sobre
as misteriosas atividades do “consultor” Dirceu. Durante o governo do ex-presidente Lula, a Delta passou de empresa de porte médio a sexta maior empreiteira do país. É, hoje, a que mais recebe dinheiro da União. Sua ascensão vertiginosa chamou a atenção dos concorrentes. Em 2008, a Delta já ocupava a quarta colocação no ranking das maiores fornecedoras oficiais. Em 2009, houve um salto ainda mais impressionante: a empresa dobrou seu faturamento junto ao governo federal. Em 2011, apesar das expectativas de redução da atividade econômica, o faturamento da Delta deve bater os 3 bilhões de reais - empuxado por obras estaduais e do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Resumindo, em apenas nove anos, a Delta multiplicou seu faturamento em exatos 1091%. O fato do presidente da empresa, Fernando Cavendish, para aproveitar as boas oportunidades explica uma parte do sucesso. A outra pode ser creditada às suas boas amizades e ao, digamos, talento em contratar a pessoa certa na hora certa.
Em 2009, o ano em que a Delta deu seu grande salto, a empresa passou a contar com os serviços da JD Assessoria e Consultoria, a firma do ex-ministro José Dirceu. Foi um contrato feito à sorrelfa, por meio de outra empresa da Delta, a Sigma Engenharia. Oficialmente, a JD recebeu 20000 reais mensais para “ampliar a participação da Delta no Mercosul”. Seus negócios, porém, prosperaram mesmo foi no Brasil. E José Dirceu está na raiz desse crescimento exponencial. Em 2009, a Delta amealhou 733 milhões de reais em contratos com o governo, o dobro de 2008. A empresa ampliou sua atuação nos ministérios da Defesa, Saúde e Transportes. Também passou a integrar o restrito grupo de prestadoras de serviços à Petrobras. E está encarregada da reforma do Estádio do Maracanã, para a Copa de 2014. Obras bilionárias. Ao mesmo tempo, no Tribunal de Contas da União, a Delta é citada em mais de 150 investigações por envolvimento em diversos tipos de irregularidade. Como ela conseguiu se transformar nesse portento? Graças ao trabalho do “consultor” José Dirceu. Quem garante? O próprio dono da Sigma, a empresa que contratou o ex-ministro: “O trabalho dele (José Dirceu) era fazer tráfico de influência. Aproximar o Fernando Cavendish de pessoas influentes no governo para fazer negócios”, diz o engenheiro Romênio Marcelino Machado (veja a entrevista na pág. 69).
A Delta comprou a Sigma Engenharia em 2008, num processo que se tornou motivo de litígio. Valeu-se dela, suspeita-se, somente para fazer transferências bancárias à JD Assessoria e, assim, tentar lançar um véu sobre seu espetacular desempenho na obtenção de contratos governamentais. Segundo a assessoria da Delta, o contrato com o ex-ministro foi negociado diretamente pela Sigma. Ao assumir o comando da empresa, Fernando Cavendish teria apenas dado prosseguimento ao acordo. Depois, ao perceber que José Dirceu não entregara o que fora prometido, “a ampliação dos negócios no Mercosul” -, ele decidiu rescindir o contrato. Nada disso, contudo, é verdade, de acordo com os donos originais da Sigma. “Nós nunca vimos o Zé Dirceu. Só ficamos sabendo que estávamos fazendo pagamentos a ele quando nos apresentaram as notas fiscais”, diz José Augusto Quintella Freire, um dos proprietários da empresa. Quintella também afirma que a história do Mercosul é balela: “O trabalho de Dirceu permitiu à Delta entrar no mercado de óleo e gás”. Procurado, Dirceu disse que não fala sobre seus negócios. A Petrobras também não quis comentar o caso.
Com a crescente participação do estado na economia, os empresários buscam ligações especiais com o mundo oficial, para compelir com vantagem nas licitações e obter parcerias com o governo. Como o estado brasileiro é um dos mais onipresentes no universo da produção, com uma fatia de 40% do produto interno bruto, cria-se um campo ainda mais fértil para aproveitadores.
É nesse cenário que figuras com o perfil de José Dirceu ganham maior relevância: “Pessoas que saem do governo e montam consultorias existem em qualquer país do mundo. Agora, quando há uma situação em que a burocracia estatal é grande, complexa e tudo é regulado e difícil, aí não tem jeito. Inevitavelmente, criam-se dificuldades para vender facilidades”, diz Sérgio Lazzarini, economista e autor de Capitalismo de Laços, um livro essencial para entender essa via de mão dupla e os intermediários entre os cofres públicos e as empresas.
A compra da Sigma pela Delta, como foi dito, é motivo de uma intensa disputa judicial. Graças a essa contenda é que veio à tona a confirmação de que o consultor José Dirceu age como um intermediário de oportunidades dentro do governo. Ela mostra também o perfil de cliente que busca esse tipo de serviço. Em reunião com os sócios, no fim de 2009, quando discutia exatamente as razões do litígio, o empresário Fernando Cavendish revelou o que pensa da política e dos políticos brasileiros de maneira geral: “Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas para ‘c…’. Pode ter certeza disso!”. E disse mais. Com alguns milhões, seria possível até comprar um senador para conseguir um bom contrato com o governo: “Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado (para fazer obras). Senador fulano de tal, se (me) convidar, eu boto o dinheiro na sua mão!”. Subornar pessoas com poder de decisão no governo é crime de corrupção ativa. Todo mundo sabe que isso ocorre a toda hora. Mas ouvir a confirmação da boca de um grande empresário do país, mesmo se for só bravata, é assustador.
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