À primeira vista, representa um avanço o ranking de carros poluidores apresentado pelo Ibama na semana que passou. Porém, como tudo que vem do governo (qualquer governo), ainda mais quando está envolvido o espetacular ministro Carlos Minc, é bom tirar o pé do acelerador do entusiasmo. Em especial se o seu carro for flex.
O álcool combustível, agora renomeado com a marca globalizada de  "etanol", é um trunfo do Brasil. Fruto  de um programa nacionalista e intervencionista da ditadura militar, o  Proalcool, virou campeão ambiental. 
Em nenhum outro lugar do mundo se  obtém etanol na quantidade e com a  produtividade permitida pela cana-de-açúcar por aqui -agora já sem nenhum subsídio estatal. 
O álcool pode ser considerado um  combustível mais "limpo" porque o  carbono que lança na atmosfera, na  forma de gás carbônico (CO2), é reutilizado na próxima safra de cana enquanto as plantas crescem. O CO2 é a  matéria-prima da fotossíntese. Apenas com ele, água e luz (energia solar),  os vegetais produzem a biomassa cuja  energia química usufruímos, antes de  mais nada como alimento. 
O reaproveitamento do carbono no  ciclo de produção do etanol não é  completo, mas quase. Algum CO2 adicional é emitido no processo, por  exemplo com o uso de fertilizantes. 
Cerca de 90%, porém, deixam de ser  emitidos na atmosfera. 
A gasolina polui muito mais, nesse  sentido. Todo o carbono emitido em  sua queima é uma contribuição nova  para engrossar o cobertor de gases  que agravam o efeito estufa e alimentam o aquecimento global. 
Antes de ser extraído o petróleo,  seus hidrocarbonetos repousavam  nas profundezas do subsolo e do pré-sal. É essa energia química, fixada por  plantas e microrganismos fotossintetizadores há milhões de anos, que impulsiona veículos a gasolina, diesel e  gás natural, por isso chamados de  combustíveis fósseis. 
A clara vantagem antipoluição do  álcool foi de certa forma -uma forma  canhestra- reconhecida no trabalho  do Ibama, lançado às pressas por  Minc. Como não dá para comparar álcool e gasolina nesse quesito, tamanha a desvantagem da segunda, ele foi  omitido da "nota verde". A emissão de  CO2 está numa pontuação separada,  só para veículos a gasolina. 
Resultado: no ranking que todo  mundo viu e comentou, vários modelos a álcool (na realidade, carros flex  abastecidos com etanol para o teste)  aparecem entre os mais poluidores. 
Do ponto de vista das emissões que fazem mal para a saúde, trata-se de informação significativa. Há razões para  crer, contudo, que o álcool ficou pior  na fita do que deveria. 
Passando por cima da outra nota, a  mais relevante para o problema igualmente decisivo do aquecimento global, muitos jornalistas concluíram -e  deixaram isso claro nos títulos- que  carros a álcool poluem tanto quanto  ou mais que outros a gasolina. Uma  informação que, na melhor das hipóteses, está incompleta. 
Mesmo no que diz respeito à contribuição de veículos a álcool para a má qualidade do ar nas cidades, há motivos para pisar no freio. Vários motivos: enxofre, benzeno, olefinas, formaldeídos -emissões em que o álcool em geral se sai melhor. Nenhum deles entrou na "nota verde", que só considera monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos. 
Se o saldo da publicação do ranking  for a conclusão, entre consumidores,  de que abastecer o carro com álcool  polui tanto quanto fazê-lo com gasolina, Minc acaba de dar mais um tiro no  próprio pé -o do acelerador.
Marcelo Leite Tiro no próprio álcool 
 
 
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