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20.9.09

mediocridade de crescimento e nada a comemorar

AO FIM DOS anos de governo FHC e Lula, o Brasil parece entrar na era da mediocridade sustentável. É o que sugerem os dados da Pnad do IBGE, a mais completa pesquisa socioeconômica do país, divulgada na sexta-feira. Haverá ainda duas Pnads relativas aos anos Lula (2009 e 2010), mas, excetuadas catástrofes, os números não dirão mais nada de diferente e relevante. Mudanças socioeconômicas são lentas, ainda mais por aqui.
Em meados da década, a Pnad causou alguma excitação. Indicava que a desigualdade de renda caía de modo quase contínuo. Como a partir de 2004 o consumo e o PIB também passaram a crescer, houve uma conjunção de queda da injustiça e da penúria, daí a animação. Agora, o Brasil se torna um país "mais normal", como gostam de dizer os economistas. A melhoria incremental indicada pela Pnad não causa sensação. Tampouco causa revolta, mas letargia, o nosso horror remediado.
A satisfação com o estado de coisas, a nossa era das expectativas reduzidas, o estado de coma da política maior e o baixo custo de aquisição da boa vontade popular produziram essa paz social. A vitória federal do PT e seu travestimento ideológico contribuíram para a "grande moderação" nas lides políticas e sociais.
Mas, no ritmo da melhoria da última década, levará 25 anos para que o Brasil se torne tão desigual quanto os EUA de hoje, o mais desigual dos países ricos, ou uns 15 anos para se assemelhar ao México nesse quesito. A diferença da renda apropriada pelos 10% mais pobres e pelos 10% mais ricos é o triplo da média dos 18 países do G20 (afora Brasil e União Europeia, o 20º dos 20), grupo onde o Brasil devaneia seus sonhos de suprema potência e relevância. No G20, além dos ricos, estão Índia, China, Indonésia, África do Sul, México, Argentina e Turquia.
A renda domiciliar per capita média é de R$ 455 para 60% do país (menos que um salário mínimo). A média de anos de estudo é de sete, menos que a educação primária, e entre um quinto e um quarto da população é "analfabeta funcional". Somos pobres e ignorantes.
A renda medida pela Pnad cresce, mas modestamente (e com auxílio do boom do comércio mundial). Parece, pois, que parte da melhoria evidente do consumo se deveu ao aumento mundial de produtividade (queda de preços) e ao real forte. Em parte, melhoramos porque pegamos carona no progresso alheio.
Os governos FHC e Lula, mesmo com seus defeitos repulsivos, foram dos melhores da nossa história. Deram fim ao período de tumulto político, financeiro e social de 1980 a 1994. Mas governos são apenas parte da história. De resto, a contribuição fernandino-luliana à "paz social" parece ter estabelecido um novo padrão de conservadorismo.
Trata-se de um "pacto social" na prática, tão falado nos anos 80. À maneira nada radical do Brasil, reformou-se o Estado, a economia tornou-se mais funcional e administrou-se o remédio social previsto na Carta de 1988 (e pela receita das ditas "reformas neoliberais"), um sossega leão popular. Partidos políticos e movimentos sociais não se interessam em produzir mudança de monta -ou não têm motivos ou capacidade para tanto. A isto chegamos, à era da mediocridade sustentável.

VINICIUS TORRES FREIRE Paz social: o povo é barato

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